Ele convidou ela pra almoçar. Já faziam meses que ele mantinha esse amor platônico e estava decidido a tentar pôr em prática.
Pensou num jantar, mas pouco tinham se falado, o primeiro encontro deveria ser mais informal pra não intimidá-la, ele queria conquista-la aos poucos, sabia que tinha qualidades que uma mulher procura num homem e queria mostrar isso a ela.
Ela estava nervosa, não queria se envolver por medo, mas ele parecia tão legal, gentil e amável.
A primeira vez que se viram foi quando ele tinha quebrado um dente e precisou ir até a clínica onde ela era secretária. Foi total coinscidência, o dentista que o atendia regularmente estava em férias e ele teve que recorrer a outro, e quando a avistou na recepção apaixonou-se.
Foi fulminante, ao sair de lá não conseguia parar de pensar nela, e como pretexto pra vê-la inventou uma dor de dente, na outra semana quis voltar pra fazer uma limpeza, e quando soube que um clareamento dental que a clínica oferecia tinha 5 sessões não hesitou em fazê-lo, 5 sessões significavam vê-la 5 vezes, ele estava tão apaixonado que se o dentista sugerisse que ele arrancasse 32 dentes ele faria, desde q fosse preciso voltar 32 vezes.
Ela estranhou tantas idas, claro, mas nunca pensou que aquilo tudo fosse pra ela, frequentemente recebia cantadas dos pacientes, afinal era uma menina bonita, simpática e jovem, ela nem ligava, estava ali para fazer seu trabalho.
Um dia ele criou coragem e a convidou e a convidou para o almoço. Ela estranhou, mas aceitou..afinal o que é um almoço?Estava receosa, não queria namorar tinha medo de sofrer, de engravidar, de se tornar muito dependente, de ter seu espaço invadido.
Nunca havia tido um namoro de verdade e suas amigas a criticavam dizendo que ela acabaria sozinha por ser tão perfeccionista. Tinha deixado de falar com Hugo pois ele ligava toda hora, deixou Pedro pois ele não ligava nunca, não quis o Vinícius pois ele parecia fanho, dispensou Maurício pois ele usava boné o tempo todo, o Carlos falava demais, Eduardo uma vez arrotou perto dela, João usava óculos...era como um auto-boicote, ela procurava um defeito nos caras para justificar o fato de querer ficar sozinha, mas na verdade ela se sentia sozinha e queria muito alguém.
Com ele era diferente, ele parecia perfeito, se vestia bem, falava corretamente, era bonito, agradável e ela torcia pra que ele não tivesse nenhum defeito. Marcaram o encontro para meio dia em frente ao trabalho dela, e então iriam até um restaurante.
Ela estava linda e ele também. Formavam um casal bonito, e ela pensou o quanto seus pais gostariam dele, estudante de direito, estagiando na área, bem de vida. Ele falava da mãe algumas vezes, era professora e também dos irmãos. Dois irmãos mais velhos. Ela era filha única.Almoçaram juntos por 1 mês, ele pegou a mão dela mas não teve coragem de beijá-la, ela gostou disso, sentiu-se valorizada estava apaixonada.
Conversavam sobre tudo, tinham gostos musicais parecidos e idéias que se complementavam. Torciam para o mesmo time e queriam as mesmas coisas da vida.
Ao fim de um mês ele planejou que seria apenas mais um almoço, já havia decidido que seria o último como apenas bons amigos , o próximo passo seria convida-la para jantar e depois conhecer sua família. Ele já a amava, ela estava bem perto disso.Para aquele último almoço que seria o da transição para algo mais sério ele tinha comprado um presente pra ela. Um, lindo e valioso relógio com detalhes em ouro branco e brilhantes. Combinava com ela, estava ansioso pra começar um relacionamento com a menina mais incrível que conheceu, via nela a mãe de seus filhos, o amor de sua vida.
Ela estava preparada pra dizer sim a qualquer proposta, ele era perfeito, ela procurou defeitos e não encontrou, ele só podia ser destinado a ela, não havia outra explicação. Estava apaixonada, havia encontrado seu príncipe encantado, ele era perfeito, não tinha defeitos, ela só pensava nele, desde que acordava até a hora de dormir e não raras as noites em que sonhava com ele.
Sairam do restaurante e como de costume, ele a levava até o consultório, ficavam ali conversando por uns 15 minutos até que chegasse a hora dela entrar. Conversaram um pouco enquanto ele se segurava para não entregar o presente, queria deixar para o último momento, antes do presente queria beijá-la.
A conversa fluia e chegava a hora da despedida, um momento seus olhares se cruzaram e eles sentiram como se o tempo parasse...ele a tocou e se beijaram, um beijo tímido ainda, suave e apaixonado. Foram ao céu com aquele beijo.
Ao se afastarem sorriram e ela notou algo nele, olhou séria.
Parecia desapontada.
Ele pensou que talvez ela tivesse achado ousado o beijo, mas mesmo antes que ele pudesse perguntar o que haviade errado, ela levantou-se e num breve "tchau" se foi...
Ele ficou sem entender, esperou na saída, mas ela o evitou, disse estar com pressa.
Ele ligou, ela não atendeu, ela mandou uma carta dizendo o que sentia e perguntando onde havia errado, ela nunca respondeu.
Pobre rapaz chorou por muitos meses, se culpou e se sentiu a pessoa mais rejeitada da face da terra. Se isolou dos amigos,teve depressão e até hoje quando passa pela rua do consultório sente seu coração partir em mil pedaços, se sente sem coragem de iniciar um novo relacionamento, ou de sequer tentar.
Ela nem sob tortura vai dizer a ele que tudo acabou por ela ter sentido nojo quando viu que depois de beija-lo que ele tinha um pedaço de alface no dente.
Não era pra ser, ela pensava.
Conto de Ficção by Paula Crespo
(Qualquer semelhança com a vida real é mera coinscidência)
1 dramas:
Legal seu texto, tem mais algum que vc screveu?
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